"Ler – no sentido pleno da etimologia latina, de 'colher com os olhos' – as páginas deste Comunicação e sociedade: métodos freirianos, é um alento em tempos em que a educação se instrumentalizou a serviço do capital e a comunicação reduziu-se à esfera da midiatização. Sobre o conjun
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to dos textos – variados em seus espectros temáticos; rigorosos na síntese que fazem da obra freiriana, tão extensa e complexa; percucientes nos argumentos e proposições habilmente apresentados –, pode-se dizer que paira a efígie de Jano. Cada um deles, a seu modo, ao mesmo tempo em que inventaria o pensamento de Paulo Freire, percorrendo seu trabalho por meio de viva interlocução, paráfrases e citações, também compulsa essa extraordinária herança em perspectiva prospectiva, isto é, projetando (atente-se para o étimo pro-jectu, “lançado para diante”) o desejo de uma sociedade mais justa, mais feliz, mais humana." (Prefácio, página 9-10)
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"Como indica o título do livro há em seus 21 textos diversos cenários que se apresentam em torno daquilo que conceitualmente é definido como “desinformação”, ou seja, reflexões sobre o nosso tempo concomitante de vida em que se dá crédito a teorias absurdas, se reescreve o passado a par
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tir da lógica das falsificações históricas e se constrói perigosas verdades alternativas. Como enfatizou Roger Chartier (2022), num recente artigo sobre a questão da verdade, há que se remarcar também as ameaças que o estatuto de desinformação confere à própria interpretação do passado: “nossa relação com o passado está ameaçada pela forte tentação de histórias imaginadas e pelas tentativas políticas de reescrita do passado” (página 9). Exemplar neste sentido, no Brasil, tem sido a volta da idolatria ao período ditatorial levada a cabo por representantes políticos da extrema-direita, capitaneada pelo Presidente Jair Bolsonaro, que incontáveis vezes tem feito apologia à ditadura civil-militar instaurada em 1964 e homenagens a torturadores do período, nas inúmeras ocasiões a que se refere, por exemplo, ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi chefe do DOICodi. Refletir sobre desinformação e as teias comunicacionais nos tempos contemporâneos torna-se, portanto, urgente." (Prefácio, página 11)
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