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Catolicismo midiático

Aparecida: Idéias & Letras (2011), 359 pp.

Contains bibliogr. pp. 339-359

ISBN 978-85-7698-078-0

Signature commbox: 212:10-Catholic 2011

"Este livro estrutura-se em três partes. Na primeira: Movimentos do catolicismo, que abrange os quatro primeiros capítulos, o leitor encontrará os itinerários, históricos, sociorreligiosos e teológicos percorridos pela Igreja em sua luta contra a cultura de consumo e a maneira como se rende aos pressupostos dos estilos de vida que perpassam as novas gerações, educadas na sensibilidade da cultura de massa – essa última adversária da doutrina cristã, ao ser portadora de desagregação e permissividade moral. Para isso, percorre-se, a título de argumentação empírica, a ascensão do fenômeno midiático Pe. Marcelo Rossi, as mudanças culturais e espirituais que a alavancaram e as múltiplas ambiguidades que o acompanham em sua superexposição midiática. Nesse trajeto, elencam-se os mecanismos de comunicabilidade deflagrados pelo padre de multidões, os dispositivos de resemantização das tradições e devoções populares, os diversos espaços utilizados como produtores de sentido e de identidade religiosa, e as codificações performáticas acionadas na procura de (re)adesão institucional dos fiéis-fãs. Mostra-se a circularidade midiática que baliza a construção social do carisma das celebridades religiosas e as estratégias de elasticidade teológica que permitem usufruir, "sem culpa", dos rendimentos econômicos alcançados em nome de Deus. Por sua vez, se observará como a mídia pauta os itinerários religiosos imbricados às novas subjetividades do indivíduo moderno e as alternativas de significância existencial que florescem à sombra das transformações culturais.
Na segunda parte, O catolicismo midiático, comprendida entre os capítulos cinco e sete, o leitor(a) adentra-se no cerne da disputa entre religião e mídia, nas refinadas distinções que a teoria da comunicação oferece para compreender certo tipo de modernização sem modernidade que ocorre dentro da Igreja. Expõe-se as diversas interpretações teóricas que munem os setores conservadores para se apropriar dos mass media, como meros veículos difusores das unívocas verdades doutrinais, mesmo que isso comprometa a substancialidade da mensagem evangélica, todavia, sendo a motivação última: responder aos sinais dos tempos. Alertar-se-á como nesse percurso a Igreja não sai ilesa. Dado que o uso do rádio, da televisão e da internet, objeto de análise detalhado, coloca o catolicismo midiático – com suas performances, discursos, estrutura melodramática e imaginários – na mesma rota de colisão e semelhança com o neopentecostalismo protestante. Na mesma trilha midiática, descortina-se a participação cinematográfica do padre-artista no universo das star system "globais", desvelando as alianças e os embates que camuflam a opção que a Rede Globo faz pela ainda maioria religiosa do Brasil, perante a iminente ameaça que representa a Igreja Universal do Reino de Deus.
A terceira parte, Catolicismo em conflito, composta pelos capítulos oito e nove, aproxima o leitor(a) às raízes históricas do catolicismo intransigente, consolidado numa batalha antimodernista, e aos bastidores intraeclesiais para familiariza-lo com as dinâmicas institucionais. No decorrer, discute-se a reconfiguração do panorama eclesial a partir das políticas, os discursos e as ações pastorais reinstitucionalizadoras, emanadas da Cúria Romana, como também a operacionalização das mesmas e suas repercussões nas igrejas locais. A partir daí, realiza-se um mapeamento do jogo de forças nos diversos catolicismos, sinalizando a posição que o catolicismo midiático ocupa e nele a maneira como os setores conservadores da hierarquia o alinharam, afetiva e efetivamente, às aspirações enraizadas na neocristandade." (Introduçao, página 21-23)